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2006-04-03

Partos de plástico, salvam vidas!

"A máquina tem contracções, como qualquer mulher em trabalho de parto. Tem um boneco-bebé com cordão umbilical, que pode sufocar por falta de oxigénio. No momento do parto, nada pode falhar. E para o médico, o treino é fundamental. Mas como treinar em situação real não é uma opção, os futuros médicos de todo o mundo vão poder aprender a lidar com partos críticos com um simulador de alta fidelidade em desenvolvimento no Porto, pelo Instituto de Engenharia Biomédica (INEB).
Os dados dos serviços de saúde do mundo ocidental demonstram que o número de mulheres que dão à luz depois dos 35 anos está a crescer. Um factor que aumenta a incidência de partos com probabilidade de se complicarem. Por outro lado, há cada vez mais recurso às técnicas de fertilização in vitro, para combater a crescente infertilidade que ataca os casais. E nesses casos, os estudos demonstram que 50% dos partos acarretam complicações. Ou seja, há cada vez mais partos de risco.
É neste cenário, explica Willem Van Meurs - investigador do INEB que está à frente do projecto -, que é cada vez mais importante o desenvolvimento de um simulador de partos de risco. Não há números para Portugal, mas estudos realizados em Inglaterra mostram que há cerca de três mil mortes fetais por ano e metade deve-se a erro médico da equipa que realiza o parto.
Por isso, treinar situações de alto risco, em que erros causam mortes, é fundamental na formação dos médicos, que enfrentam ainda a pressão do tempo. Um feto humano pode sobreviver sem oxigénio durante cinco minutos, sem consequências de maior. Mas a partir daí, por cada minuto que passa, a probabilidade de lesões irreversíveis aumenta, até que, ao quarto de hora, o feto morre.
Há já um simulador, que há cerca de dois anos está a ser usado pelos alunos da Faculdade de Medicina do Porto. É o único modelo existente (ver fotos), mas é ainda muito limitado face às possíveis complicações que podem surgir no parto. O objectivo do grupo do INEB é criar uma nova máquina de alta fidelidade que permita, por exemplo, que o "bebé" morra, se o estudante errar os procedimentos.
O primeiro protótipo, único a ser desenvolvido no mundo, deverá estar pronto para apresentação à indústria em Junho, no decorrer da Conferência Europeia de Simulação em Medicina, a realizar-se no Porto. E, afirma Willem Van Meurs, esta é uma área em que é de esperar grande interesse por parte de empresas que comercializam o equipamento.
O novo simulador tem como grande objectivo dar "vida" ao bebé. Ou seja, a equipa de investigação desenvolveu modelos matemáticos que permitem reproduzir a oxigenação do bebé, através do sinal da frequência cardíaca fetal. A interacção entre a máquina e o estudante é outra valência, levando a que os sinais fisiológicos de mãe e feto sejam afectados pela actuação médica, até que, no limite, a "morte" possa ocorrer. Várias complicações de parto são previstas no simulador. Afinal, o pior erro que um médico pode cometer é nem sequer reconhecer que está perante uma situação crítica."

Fonte: http://dn.sapo.pt/2006/02/27/sociedade/partos_plastico_salvam_vidas.html

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